quarta-feira, novembro 24, 2004

Replicants

Desengana-te: não há maré que te leve de volta ao p(P)orto onde nasceste. Onde mataste e morreste. De onde partiste.
Não há marinheiro como o primeiro, porque não és tu agora o que eras então: pura energia, protentosa convicção.
Os locais por onde andas, as gentes com quem te cruzas que são senão réplicas de um cenário que colhia o potencial de brilho e de promessa na proporção directa da sua imaginária natureza?

Deixa-te de fitas: caminha como os peregrinos com os pés assentes no cheiro evidente do alcatrão, um pedaço de árvore seguro na mão que te for mais fiel em força, uma canção entre dentes para que não assustes os pássaros (o que te resta do céu) e não adormeças na marcha (o que te sobra de ser) e apenas duas memórias que o caminho é longo e não se quer pesado o fardo: uma de alegria perfeita, pode ser d'infância (se ela assim foi), pode ser de mãe (se o filho se vingou da vida); outra de treva inegável, de vómito autêntico, de anéantissement perverso, pervertido, péssimo. A primeira tornará ligeiro este último caminho.A segunda preservará, intacta, a vontade de não o arrepiar. E de nunca, por nunca, cair na tentação da fé.

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