segunda-feira, julho 13, 2009

Melopeia

Sob o teu olhar
a minha pele sossega
Ouç' uma melopeia
um canto líquido,
uma névoa que sob o teu olhar vagueia.
Sob o teu olhar
supendo-me em espera das voltas do mar
que só a areia encerra
Sob o teu olhar
a minha pele cega.

sábado, julho 11, 2009

Nenhum som

Trago as palavras suspensas na garganta, presas à ponta dos dedos. Dizem, talvez, assim:

Os ruídos desatam memórias que ardem.
Procuro o silêncio como quem uma trégua.
Nenhum som é inocente.
Guardo os despojos a cada canto dos dias e caminho, sem alegria, entre sombras encostadas
aos contornos exactos do mundo.

terça-feira, março 31, 2009

O rapaz e os pirilampos

Gostei dele como uma criança de pirilampos, intervalos de luz no bréu dos quartos.
Esperava por ele, porque as noites em que vinha se acendiam até parecerem dias novos em folha.
Ele gostou de mim com a curiosidade de um jovem arqueólogo que se atira alegremente a descobrir que o passado fala com ele uma linguagem perceptível e muito próxima. E assim fomos até ao dia em que julgou que aquele universo inimitável era réplica deste onde se vive em pecado, se sofre em silêncio e não é permitido ser diferente, fugir...
Nesse dia não houve leveza, as palavras fizeram-se pedras escritas, perderam-se em olhares malévolos de velhos e os pirilampos, mortos, serviram de repasto a bandos de morcegos ávidos de sangue e de mortalidade.
Hoje recordo com a mesma ternura o rapaz e os pirilampos que o seguiam e recuso-me a acreditar nas vozes que me dizem que a vida é uma perigosa armadilha para os que sonham.

Como a noite as luas

Tens nos dias como a noite as luas e assim afectas esta formiga entregue à lavoura da vida...um sopro teu e está perdido todo o carreiro vencido, cansa-se o bicho deste destino ilegível, desta sina que o põe dependente de amores variáveis e de silêncios pedra...quase desiste.
Sabes, as palavras podiam, corajosamente, explicar o mundo e libertar a presa, mas isso seria uma revolução demasiado liberal para ti, não é?

O Expediente

Agora é fim-de-semana e tu fechas-te no teu círculo mais que secreto e é como os domingos para os pecadores, para os pescadores: ambos desaparecem do mar. Até ser segunda-feira outra vez, dia de voltar ao mundo e às suas entranhas, às suas estranhas criaturas...quem sou eu nos teus dias úteis senão migalhas do expediente?

terça-feira, dezembro 09, 2008

Menos um traço

Hei-de esquecer-te.
Menos um gesto, menos um tom de voz, menos um traço do rosto.
Menos um abraço interior com o corpo todo.
Hei-de esquecer-te até não seres
Mais do que qualquer outro.

domingo, setembro 07, 2008

Límpido, o horizonte

Vejo, límpido, o horizonte ao fundo e é de mar. Recupero a transparência do olhar e a nitidez das partículas assenta sobre os meus dias de novo. Acho que deixei de te amar. Já não me comovo.