terça-feira, março 29, 2005

Anti-virus

Estou nauseada, minhas amigas.E tudo porque à minha volta circula o vosso espesso discurso amoroso.Apresento já claras dificuldades em respirar condignamente.Procuro nesta Primavera incerta, mas efectiva, razões de peso ou de pólen para tanta e tão compacta insanidade.Mas a estação recua na culpa deste estado de sítio, acusa-me de me servir dela como de um lugar comum e chove.
Apetece-me esbofetear-vos, meus amigos, dizer-vos que não podem semear assim de suspiros um território que é suposto não sobrecarregarmos com culturas intensivas como esta, a do amor.
Vejo espelhadas em vocês as várias faces com que esse virulento afecto arranja modo de consumir as almas, entorpecer os corpos e atrapalhar a inteligência dos afectos.Com que arranja maneira de converter seres criativos e porosos em verdadeiros concentrados de apatia e sono ou de frenesim e fúria.Alternada e aleatoriamente.
Desolados porque não são correspondidos, porque não sabem se serão correspondidos,porque não entendem porque não lhes correspondem, porque duvidam se voltarão a corresponder-lhes,porque teimam que lhes corresponderão...assim vos tenho eu, meus amigos, submergidos até à nuca, neste carrocel desconexo, sob o qual tento, estonteada e próxima do vómito, contrariar a vossa vontade(?)de não ser.
Oxalá o Verão vos traga de volta às conversas frugais e variadas com que se compõe a leveza e a seriedade dos dias e a amizade, esse sentimento em tudo superior a qualquer outro estado de alma.