Jamais Vu
Pela janela, como escotilha de navio encalhado em porto pobre, invejo-o. Ponto de luz ansisosa a arriscar a noite. Este é o vislumbre da felicidade: partir! Largar, como pele, o corpo. Mudar de alma. Ser outro ser em outro sítio. Viver uma vida alternativa, em nada igual a esta. E outra e mais outra. Não guardar de nada a memória. Não saber somar os dias. Não tê-los nunca saturados de sentido, repetidos. Daqui de casa, os meus pés de chumbo invejam o pássaro de aço, enquanto o meu desejo viaja. Para o mais longe possível. Do mais fundo de mim.
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