quarta-feira, maio 24, 2006

Adeus, pai!...

Obrigada, pai, por nos teres amado tão incondicionalmente...



...Nos deveres e nas graças, aos domingos e às segundas-feiras, em dias de luz e de risos e nos outros de dor e de desalento, de desgraça e de desvario, de solidão e de doença. Obrigada por nos teres dado uma infância onde é bom voltar sempre que a memória nos chama e onde podemos levar a passear os nossos filhos, sem sombras que os assustem.



Obrigada pelos Carnavais no jardim, pelas bicicletas, pelos cães, pelos concertos de jazz nas noites de Agosto, pelas mil boleias, pelos banhos de mar e os pinos na areia de Sesimbra, pela mão na nossa mão nas salas dos médicos, por receberes os nossos namorados e gostares dos nossos amigos, pelos castigos certos e os errados e, sobretudo, pelos escudos quando as notas eram boas.



Obrigada, pai por, entretanto, termos crescido a tratar-te por tu, por ires comprar os soutiens por nós, por nos teres deixado ripostar e desobedecer-te, por te termos contigo sempre do nosso lado e nos teres deixado reparar que não eras perfeito. Tu sabias que nós também não.


Afinal, foi a seguir que te amámos, se era possível, ainda mais.


Foi depois disso que não tivemos quaisquer outras dúvidas: tu eras o pai das nossas vidas!


Obrigada pela coragem de que deste prova e pela perseverança de que nos deixaste testemunho, pela tenacidade e pela alegria que semeaste em cada passo.


Obrigada por essa felicidade com que cantarolavas – mesmo nos dias mais difíceis, mesmo nestes, perto do fim - e que nos lembrará sempre a mais alta e a mais brilhante árvore de Natal: a tua!


Obrigada pelo optimismo, pai. Obrigada pelos teus conselhos, mesmo os que não quisemos ouvir, e por nos ouvires os segredos, mesmo os que te doíam saber.
Obrigada por procurares ajudar-nos até quando não te pedíamos nada.
Obrigada por esta lista sem final à vista.
E um obrigado infinito por teres suportado, quase sozinho, essa outra cruz que te afundou a vida, mas nunca a alma e nunca o sonho e o sorriso com que todos os dias nos abrias a tua porta. Haverá melhor prova, haverá sinal de amor mais incontestável?
Obrigada, enfim, por teres esperado por cada um dos nossos filhos como se fossem teus e por teres amado, cada um deles, como nos amaste a nós, mas com mais ternura ainda.

Hoje é o dia mais triste das nossas vidas: sabemos que nunca mais as horas vão ser perfeitas e que a saudade é tão concreta como a pedra e o silêncio e a casa vazia.

Mas hoje é, também, o primeiro dia de uma nova vida, o primeiro dia dessa missão que cada pai lega a cada filho e que tu, mais que ninguém, mereces que cumpramos, pediste-nos que cumpríssemos:
Não te deixar morrer nunca.
Trazer-te connosco em cada gesto nosso e, depois, no de cada filho,
vivo, até à eternidade.
Lembrando-te, como tu sempre pediste,
não o avô destas últimas horas amargas e tristes, mas o pai dos tempos alegres e fortes de uma vida inteira. Não sentados e nostálgicos e chorosos, mas caminhando e construindo,
recebendo cada manhã como uma bênção.
A tua bênção.
Cada um de nós à sua única maneira.

Adeus pai!



Vai pelas beirinhas...