quinta-feira, março 24, 2005

Amor e Amianto

De súbito assaltou-nos uma espécie de iliteracia voluntária da alma. Não queremos saber ler - quanto mais interpretar...- os sentimentos com que a vida nos tem, ultimamente, composto este e aquele romance. Mas grave, de uma gravidade extrema, é que nem nas vizinhanças estamos de uma master piece, composição que fosse críptica, envolta em múltiplos sentidos. Não. Vivemos uma confusa e pungente amostra de literatura de cordel e vivemo-la com a seriedade e o commitment de uma Guerra e Paz. Só posso explicar o facto por esta espécie de toxicidade de que anda o ar composto e que lança caruncho sobre a acutilância com que o raciocínio usa desmanchar as peças da nossa vidinha, acondicioná-las em lugar certo, nomeá-las com toda a propriedade. Parece que perdemos a ideia do conjunto, a noção da relatividade, a visão panorâmica. Estamos isolados num sentimento ílhavo a que chamamos "provavelmente amor". Não queremos entende-lo como não mais do que um resumo limítrofe da mais vil vaidade.
O amianto faz destas, quando se vê confundido com o amor.