quinta-feira, novembro 25, 2004

O Efeito do Eco


Não é pelas palavras que nos entendemos.Não há verbos que refaçam os nossos passos.Nem nomes a silhueta das coisas.Tão pouco essas borboletas ridículas a que chamamos adjectivos são mais do que peneiras de uma gramática que falsifica a vida.Passamos o tempo a contar-nos histórias, a tentar descobrir menos o que de verdade existe no discurso do outro, que a agarrar-lhe o que nos convém ouvir, o que nos consola, o que nos mente e, mentindo, nos afirma. Mesmo que a conversa seja tão distante de nós como do eu o tu, ainda assim lá estamos a inventar coincidências, a adivinhar sentidos subliminares que possam convir à nossa rotunda existência.
E o outro?Quanto do que ele diz é holográfico, quanto coreográfico, quanto o luxo que não temos no lixo que é a nossa vida, solitária e cruel?
É, portanto, mais do que evidente que queiramos conversar, sendo mais do que evidente que nunca nos entenderemos, pela mais do que evidente das razões: não estamos cá para isso. Se estivessemos, onde iriam já as nossas palavras?
Não é pelas palavras que nos entendemos.Apenas acordámos que sim.
Até porque o silêncio tem outros e muito mais perigosos ecos.
Dito isto, que há de diferente entre o homem que dorme sobre o mármore da avenida e o Sr. Vuitton, tu, eu ou qualquer um de vós? Seremos sem-abrigo com casa?

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial