Amor e Amianto
De súbito assaltou-nos uma espécie de iliteracia voluntária da alma. Não queremos saber ler - quanto mais interpretar...- os sentimentos com que a vida nos tem, ultimamente, composto este e aquele romance. Mas grave, de uma gravidade extrema, é que nem nas vizinhanças estamos de uma master piece, composição que fosse críptica, envolta em múltiplos sentidos. Não. Vivemos uma confusa e pungente amostra de literatura de cordel e vivemo-la com a seriedade e o commitment de uma Guerra e Paz. Só posso explicar o facto por esta espécie de toxicidade de que anda o ar composto e que lança caruncho sobre a acutilância com que o raciocínio usa desmanchar as peças da nossa vidinha, acondicioná-las em lugar certo, nomeá-las com toda a propriedade. Parece que perdemos a ideia do conjunto, a noção da relatividade, a visão panorâmica. Estamos isolados num sentimento ílhavo a que chamamos "provavelmente amor". Não queremos entende-lo como não mais do que um resumo limítrofe da mais vil vaidade.
O amianto faz destas, quando se vê confundido com o amor.
1 Comentários:
Sabes que o amianto é matéria proibida. O amianto, hoje, é uma das várias coisas que neste mundo é considerado um passivo ambiental, ou seja, alguém, num passado mais ou menos distante usou sem se preocupar ou perceber com as consequências futuras do uso do dito, na qualiade de vida do próprio ou de todos nós. O amianto caracteriza-se microscopicamente, por evidenciar umas pontas aceradas, que são responsáveis, uma vez inaladas pelo incauto, por lacerações graves e permanentes que podem levar ao cancer. É desta forma que constroi a sua proximiadade com o amor desavindo, com as aproximações do amor, que se revelam bastardas ou inconsequentementes, ou então com a simulação do amor, á laia de substituto do alcool na cerveja. Mas sempre a ponta acerada e microscopica, agarrando os incautos, subreptícia e dilacerantemente. Não há nem ílhavos nem ilhéus contracorrente. Feridas, lustrosas, desconhecidas, ocultas, á vista. Querias um espelho do amor que tivesse uma imagem de amianto. Não é bem assim, apenas se tocam nas fímbrias, quando tendem em conjunto para se tornarem um passivo na memória!
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