sábado, abril 30, 2005

Hipóteses de Voar

O Sem Juízo de Campo d'Ourique, ontem, sobre árvores centenárias, sentados nós no banco de um jardim polvilhado de gente, veio ter connosco. O galo julgava que tinha hipóteses de voar e ia subindo, ramo a ramo, até deixar de nos ver. O miúdo estava constantemente a procurar a bola por entre pernas. Tal era a frondosidade da flora, a loucura da ave, o engarrafamento d'homens.
O Sem Juízo perguntou-nos porque tiraram daqui os eléctricos, porque não há um jardim em Campolide, de que cor é... - Verde. Não. - Azul?? Um sorriso a emoldurar-lhe os lábios de lápis afiado. - De que cor, então? Minha senhora...

Dir-se-ia uma criança sagaz e séria a questionar gente acimentada em tantas evidências improváveis. Nós.

Desceu um vento súbito sobre o parque. Distraiu-nos das veleidades do galo, das tropelias da bola, do trânsito serpenteado dos habitantes do fim da tarde.

Que faço eu aqui contigo? Fui eu que pensei. Vou para casa. E foi quando a voz do Sem Juízo se começou a perder, afastada pela mão do pai.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial