quinta-feira, novembro 17, 2005

O Bosque - IV. Figura de uma Mãe de Sombra


Promete, Cipreste, que quando fores maior,
Disfarçarás a árvore hermética que és
E deixarás que brinque, que ria, que dance a teus pés
Toda a criança seja de que idade for.

Promete que, em vez de um círio negro dirigido aos céus
Que implora, erecto, pela salvação dos bons, pelo erro dos ateus,
A tua copa certa e a tua forma geométrica
Terão só as linhas curiosas de um cilindro, o aspecto de um palhaço,
o ar de uma boneca...

Promete, Cipreste, que ao olhar para ti, para o teu porte austero,
Ninguém verá, por este singelo jardim,
As formas silenciosas de um frio cemitério
Ou a figura de um mãe de sombra ou de um pai severo
A olhar do alto de uma tristeza sem fim.

Ciprestre, tens de prometer
Que cada pedaço teu fará renascer
A quem para ti olhar,
Em cada coração de menino, coração de rapaz,
A esperança toda de que fores capaz.

Tens de o fazer, Cipreste,
Ainda que a tenhas de inventar.

Por ser esta a razão porque para aqui vieste,
Por ser esta a tua missão neste lugar.

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