O que Fazemos dos Sonhos que Temos - II. Maninho...
...Enquanto Jovem
Tem uma mochila das Forças Armadas Portuguesas.
Trocou-a n Feira da Ladra por uma colecção de 1500 caricas de uma cerveja que já não há e que encontrou na cave onde a mãe e as vizinhas largam o lixo. As caricas estavam espalhadas pelo chão como se alguém as tivesse despejado de uma pasta qualquer para se ver livre delas, para libertar a pasta.
Durante muito tempo brincou com elas a fazer estradas e pontes e barcos. A fazer de conta.
Uma noite fartou-se da miúda que dizia que ia casar com ele e ter muitos filhos e ser muito feliz e comprar o vestido na D. Deolinda e coser meias melhor do que a mãe.
Uma noite fartou-se dos beijos dela.
Já sabiam só à sua própria saliva.
E fartou-se dos bóbós dela que ficaram iguais a uma punheta, mas obrigavam-no a conversar depois de se vir.
Fartou-se da gaja, deu-lhe uma raiva e deixou-a podre a vê-lo enrolar-se com outra, ali mesmo nas trombas dela, dos amigos dela, dos planos dela, da porra toda!!!
De manhã pegou nas caricas.
A mochila do Maninho tem dentro sprays criptotóxicos que dão pra grafitar e tegar as paredinhas brancas de Lisboa.
No bairro, só mesmo à socapa.
Ninguém lá pára a não ser ele, a crew dele e os caninos.
O Maninho é grafiteiro étnico - não há merda que lhe escape: o que está certo e o que está errado. Neste mundo e no outro.
O Maninho deixa tudo bem explicadinho a cores e letras de um desenho espantoso.
Quando acaba o material, o Maninho sabe como encher a mochila.
Tem 18 anos.
Trabalha nas obras a guiar um guindaste.
O dinheiro gasta-o nas suas obras de arte, nas pastilhas e na conta da luz, da água e da Cabo.
Não ia deixar as vizinhas ficarem a rir-se da mãe por ela passar as noites a olhar para 4 canais, para 4 paredes.
O Maninho é um gajo muito divertido e nunca está down, diz a crew.
As vizinhas dizem que o rapaz é um drogado e um ladrão, mas é tudo mentira.
O Maninho é só um gajo com pilhas.
Só se vai abaixo quando tem mesmo que ser e ninguém precisa de saber disso, tá visto.
Ali em cima, com a cidade toda a chamar por ele, sozinho que nem um urso, quem era o tipo que não havia de querer meter-se a voar, atirar-se de cabeça, passar-se prá outra dimensão ou, pelo menos, tentar?
Quem era o tipo, hem?
O Maninho tem uma mochila e dentro da mochila tem a chave da porta da cabina do guindaste, as criptotóxicas, as pastilhas...
O Maninho tem uma mochila que conseguiu graças à colecção de caricas que roubou graças à fúria da mãe que se passa da cabeça graças ao pai que nunca está.
Tem uma mochila das Forças Armadas Portuguesas.
Trocou-a n Feira da Ladra por uma colecção de 1500 caricas de uma cerveja que já não há e que encontrou na cave onde a mãe e as vizinhas largam o lixo. As caricas estavam espalhadas pelo chão como se alguém as tivesse despejado de uma pasta qualquer para se ver livre delas, para libertar a pasta.
Durante muito tempo brincou com elas a fazer estradas e pontes e barcos. A fazer de conta.
Uma noite fartou-se da miúda que dizia que ia casar com ele e ter muitos filhos e ser muito feliz e comprar o vestido na D. Deolinda e coser meias melhor do que a mãe.
Uma noite fartou-se dos beijos dela.
Já sabiam só à sua própria saliva.
E fartou-se dos bóbós dela que ficaram iguais a uma punheta, mas obrigavam-no a conversar depois de se vir.
Fartou-se da gaja, deu-lhe uma raiva e deixou-a podre a vê-lo enrolar-se com outra, ali mesmo nas trombas dela, dos amigos dela, dos planos dela, da porra toda!!!
De manhã pegou nas caricas.
A mochila do Maninho tem dentro sprays criptotóxicos que dão pra grafitar e tegar as paredinhas brancas de Lisboa.
No bairro, só mesmo à socapa.
Ninguém lá pára a não ser ele, a crew dele e os caninos.
O Maninho é grafiteiro étnico - não há merda que lhe escape: o que está certo e o que está errado. Neste mundo e no outro.
O Maninho deixa tudo bem explicadinho a cores e letras de um desenho espantoso.
Quando acaba o material, o Maninho sabe como encher a mochila.
Tem 18 anos.
Trabalha nas obras a guiar um guindaste.
O dinheiro gasta-o nas suas obras de arte, nas pastilhas e na conta da luz, da água e da Cabo.
Não ia deixar as vizinhas ficarem a rir-se da mãe por ela passar as noites a olhar para 4 canais, para 4 paredes.
O Maninho é um gajo muito divertido e nunca está down, diz a crew.
As vizinhas dizem que o rapaz é um drogado e um ladrão, mas é tudo mentira.
O Maninho é só um gajo com pilhas.
Só se vai abaixo quando tem mesmo que ser e ninguém precisa de saber disso, tá visto.
Ali em cima, com a cidade toda a chamar por ele, sozinho que nem um urso, quem era o tipo que não havia de querer meter-se a voar, atirar-se de cabeça, passar-se prá outra dimensão ou, pelo menos, tentar?
Quem era o tipo, hem?
O Maninho tem uma mochila e dentro da mochila tem a chave da porta da cabina do guindaste, as criptotóxicas, as pastilhas...
O Maninho tem uma mochila que conseguiu graças à colecção de caricas que roubou graças à fúria da mãe que se passa da cabeça graças ao pai que nunca está.
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