quarta-feira, dezembro 29, 2004

Nós que não estávamos lá para morrer...


Luto é quando nenhum poeta consegue tirar sentido ao silêncio. Quando o mar avança, predador de terras e de homens. Quando o general que o comanda tem culpa formada nas placas, mas é inimputável. Quando um amor de mãe é tão débil quanto a força de um braço de pai. Quando não há mais preces, porque Deus morreu na enxurrada.

Tsunami é o nome da besta que tomou de assalto o sudeste asiático, o coração de um punhado de homens que clamam por milagre o estarem vivos, o pudor de todos nós que suspiramos de alívio por não termos comprado bilhete para o paraíso, a dignidade dos embaixadores que não regressaram de férias e o sentido de decência humana dos ministros que se esconderam nos escafandros da política nacional.

Nós que não estávamos lá para morrer e que não vamos lá estar para salvar ninguém, saibamos pelo menos, e ainda que em vão, saudá-los deitando a meia-haste as nossas vidas.

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