Gostei dele como uma criança de pirilampos, intervalos de luz no bréu dos quartos.
Esperava por ele, porque as noites em que vinha se acendiam até parecerem dias novos em folha.
Ele gostou de mim com a curiosidade de um jovem arqueólogo que se atira alegremente a descobrir que o passado fala com ele uma linguagem perceptível e muito próxima. E assim fomos até ao dia em que julgou que aquele universo inimitável era réplica deste onde se vive em pecado, se sofre em silêncio e não é permitido ser diferente, fugir...
Nesse dia não houve leveza, as palavras fizeram-se pedras escritas, perderam-se em olhares malévolos de velhos e os pirilampos, mortos, serviram de repasto a bandos de morcegos ávidos de sangue e de mortalidade.
Hoje recordo com a mesma ternura o rapaz e os pirilampos que o seguiam e recuso-me a acreditar nas vozes que me dizem que a vida é uma perigosa armadilha para os que sonham.